segunda-feira, 22 de agosto de 2011

* DIA CINZA

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu... Chico Buarque entenderia meu dia cinza.
Foi pensando acerca do que tenho vivido nos últimos tempos, e por conseguinte, do que caracteriza meus dias enquanto dias cinzas, que senti uma imensa vontade de ressuscitar o blogger. Cá estou. Dias cinzas têm uma conotação que me remete à toda a tristeza de algo em que falta cor, em que falta sentido. Eu gosto do colorido. Meu dia pode ser vivido enquanto um "dia cinza" mesmo na mais ensolarada tarde de verão, porém, é quando o dia está concretamente cinza, que sinto um amargar muito mais intenso. Como se viesse de fora para dentro. Seria muito agradável mudar essa minha concepção de dias cinzas, mas preciso de determinada colaboração. Pela qual estou à espera.
Ademais, aludindo ao que tenho vivido, o que tem tirado as cores dos meus dias, posso me utilizar do que Renato Mezan diria sobre o que vivemos atualmente, de como é difícil renunciar à satisfação imediata das nossas vontades e que, de tal forma, abrimos mão da autonomia e buscamos satisfações artificiais. "Existe hoje uma perigosa tendência a evitar a responsabilidade individual, o que coloca em risco um dos valores que herdamos do Iluminismo: a autonomia." (MEZAN, 2005)
A possibilidade da satisfação imediata sendo mais acessível, implica na forma como nos vemos e em como lidamos com o sofrimento. Mas ainda não cheguei onde gostaria. Freud relatava a neurose como resultado de uma repressão excessiva dos impulsos, a partir de um severo superego, hoje em dia Renato Mezan defende a neurose enquanto resultado do oposto, enquanto resultado de pouca distância entre o impulso e o ato.
Sendo assim, eu pergunto: onde estaria a nossa consciência do que ouvi minha mãe repetir durante 24 anos, de que "nossa liberdade termina onde começa a do outro"? Não vejo problemas em 'dissolver' o superego em álcool e dar vida aos nossos impulsos. Desde que isso não prejudique ninguém. Se for o caso eu voto na renúncia, voto sim na frustração. Está aí onde eu queria chegar.
Meus dias perderam a cor quando percebi que nem eu, nem minha história, somos merecedoras dessa renúncia, não efetuada por outrem. Aquilo que cultivei enquanto meus valores para manter-me em bem-estar com a civilização foi machucado pela falta de consideração alheia.

"O indivíduo contemporâneo é complacente em demasia com seus desejos; quer tudo e agora, não se conforma com a necessidade de renunciar (em parte, ao menos) a sua satisfação, em nome do respeito às necessidades e desejos do outro." (MEZAN, 2005)
Não me eximo da culpa de qualquer renúncia que também não tenha feito, fosse pelo calor do momento ou outra coisa. Mas em momento algum me ausentei da reflexão sobre minhas atitudes, e as consequências das mesmas, o que contribuiu para a construção das minhas defesas contra tais impulsos, o que alimentou meu superego. Porém, o que se constrói, geralmente, ao se recusar a frustração é a falta de compreensão sobre o que nos motiva, logo, é a falta de aprendizagem na resolução de problemas.
E alguém que não se resolve me entristece, deixa meu dia cinza. Alguém que fala uma coisa e faz outra também, que tem um problema e foge do mesmo ao invés de encará-lo e resolvê-lo, que me deixa esperando... Alguém que não liga, que não volta pra mim, que não mais me trata com consideração, que me exclui de uma participação ativa numa situação que também é minha. Você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de desinventar... Só você, Chico, só você me entende.

"[...] afirmo apenas que qualquer trabalho terapêutico envolve a exigência – ética – de que a pessoa se responsabilize pelo que faz consigo própria e com os que a circundam, que ela perceba como, à sua revelia, colabora para criar em volta de si o inferno de que se queixa." (MEZAN, 2005)
Por fim, penso que seja possível se colocar mais cores nos dias... O sol me dá a ideia de consciência. Meus dias cinzas, dotados de tristeza, solidão e descontentamento com a raça humana, sobre estes, eu reflito. Almejando assim, a gestão do meu próprio sofrimento.

"Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, a palavra no muro ficou coberta de tinta. Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficou no muro tristeza e tinta fresca. Nós que passamos, apressados, pelas ruas da cidade, merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza..." GENTILEZA (Marisa Monte)

Referência: MEZAN, R. Quem está no comando? in: Veja On-Line. 2005
http://veja.abril.com.br/050105/p_064.html

Um comentário:

Anônimo disse...

Dias melhores, virão honey! =*