terça-feira, 15 de novembro de 2011

* AQUELE PÔR-DO-SOL

"[...] Levai-me aonde quiserdes! - aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira"


"
[...] Humildade de amar só por amar. Sem prêmio
que não seja o de dar cada dia o seu dia
breve, talvez; límpido, às vezes; sempre isento.
Ir dando a vida até morrer"

(Cecília Meireles)



Não foi só um "pôr-do-sol", o sol se põe ao final de todos os dias... Mas foi "o" pôr-do-sol.
Foi meu momento de entrega, ao olhar na mesma direção eu vi um pôr-do-sol diferente, eu percebi um vínculo sendo criado, um enlaçamento consentido. Aquela caminhada foi inédita, logo eu, que tenho um apreço imenso por certo sedentarismo: caminhei e - mais que isso - gostei! Me deu a oportunidade de "... espairecer, refrescar a cuca e te admirar o sorriso e os olhos d'água!" Encontrei um sentido.
A chuva que caiu enquanto o sol descia lavou minha alma, me fez entender o sentido dos meus olhos d'água, me fez (de vez!) tirar os meus olhos do mar e me encontrar num sorriso que estampa meus pensamentos frequentemente.
"So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters"
Meu domingo perdeu o que lhe era característico até então, não foi deprimente, muito menos vazio. Aliás, foi cheio! Me senti plena, completa, me senti inteira!
Viver o novo assusta, mas não é necessariamente ruim, vivi intensamente momentos que vou guardar em mim, provei novos cheiros, novos gostos, novas sensações. Olhos nos olhos... e agora já me vejo em você. Me perco no olhar e quer saber?! Nele eu poderia ficar! As horas são ingratas, passam rápido demais enquanto aproveito o implicar-se no presente, neste presente em específico. Minutos, horas, dias ou dois anos, o que me importa agora é esquecer do tempo e curtir...
O que esconde ou o que se mostra, tudo aparece quando tem que aparecer. O cuidar também implica em aceitar muita coisa por alguém especial ou por algo que se almeja, as condições que se criam devem ser favoráveis ao que se quer ter e quem disse que o caminho precisa ser ruim? Pode não ser fácil, mas se torna agradável quando se sabe que as pedras no caminho são menores que o amor. O que se mostra, se mostra a quem importa... com cuidado.
"[...] Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar

Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor [...]"
Nesse cuidar e curtir perdi muita coisa, perdi horas de sono, mas perdi com prazer! E o maior barato foi que no fim o saldo ficou positivo... Aquele pôr-do-sol me fez perder o medo, o juízo, o foco... mas me deu de presente um amor! ♥

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

* MEU INFINITO PARTICULAR...

“[...] E se o que tanto busca só existe em tua limpida loucura
-que importa?-
isso, exatamente isso,
é o teu diamante mais puro!”


Mário Quintana


Escolhi falar sobre "Infinito Particular".
E a escolha se deu devido a ter contato com as músicas cantadas por Marisa Monte há anos e ter isso gravado em mim, como uma marca, como algo que carrego, sendo também algo que me acalma e proporciona bem-estar. Tive contato com as composições de Marisa Monte a partir de uma de minhas irmãs mais velhas, somos quatro irmãs, cada uma com um gosto musical diferente, foi fácil no meu desenvolvimento me afeiçoar aos gostos delas, desenvolvendo um gosto semelhante ao de todas, gostando da diferença e do que o contato com o novo me causa.
Tal música retrata muito mais do que parte de minhas preferências musicais, retrata a forma como gosto de pensar e encarar as situações adversas da vida. Penso que, enquanto uma obra de arte, seja uma forma de expressão carregada de sinais, sinais que se referem a quem a criou, a quem a interpreta e a quem se identifica. Ao ouvir tal melodia o sentimento que me toma conta é agradável, mas vai além disso, sou levada a pensar sobre as condições humanas, numa forma de estar em contato com uma parte de mim, uma parte que questiona e que reflete acerca de assuntos que penso serem importantes. Infinito Particular tem uma letra clara, é uma de minhas músicas favoritas e expressa a partir de uma melodia agradável a forma como interpreto a questão da individualidade. A música aborda aspectos particulares de cada pessoa, onde cada um tem seu melhor e seu pior, seus limites e seu valor, como no trecho:
“Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate [...]”

Gosto de pensar sobre como a música me chama a considerar o outro na sua essência, sobre estar “na cara” o que pensamos nos constituir, o fato de se retratar alguém leva a pensar-se em como entender um significado e fazer disso um retrato (não considero enquanto algo estático, mas plenamente mutável, apenas aludindo à música, considerando a relação entre entender veridicamente e retratar).
Todavia, ao se pensar num contato que proporcione tal encontro necessita-se mais do que o recurso da audição, a música traz articulações com sentidos e significações, onde ao se recordar de uma melodia, obtêm-se mais do que a composição, associa-se a lugares, pessoas, situações...
“[...] Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte [...]”

O “fazer sua parte” penso que implique numa receptividade em se abrir para uma escuta atenta, ativa. É a partir desta atenção que se criam condições para entender, dizer que não se é de outro planeta implica na ideia de semelhança, num sentido de que “fazer sua parte” corresponde a compreender outro ser humano.
Ao citar:
“[...] Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim [...]”

O sentido expande-se para uma ideia que abrange a conceituação acerca de “ser porta bandeira de si”, onde se sabe que o casal correspondente ao mestre-sala e a porta-bandeira, no samba, são aqueles que devem apresentar com graciosidade o pavilhão da escola. Considerando que em certo ponto durante o desfile, é preciso que parem em frente aos jurados para apresentar sua dança e serem avaliados, sendo proibido que os dois dêem as costas um ao outro ao mesmo tempo. Assim, penso que o sentido se expanda por acarretar essa ideia de contato com um outro, para o qual não se pode dar as costas e com o qual, em harmonia, se será avaliado.
A música aborda a questão de como somos seres mutáveis e adaptáveis, de como carregamos características próprias a partir de nossas experiências e a forma que isso implica “num mundo portátil”, aberto a quem quiser conhecer, sendo mistério no sentido de estar oculto, mas não sendo segredo por poder ser revelado. Enfatizando a ideia de que se pode “consumir” parte do outro ao entrar-se em contato genuíno com este.
“[..] Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber [...]”

Na música são enfocados aspectos gerais de características particularizadas por cada pessoa, apreciando o contexto e as condições referentes a cada um, considerando-se assim que cada um tem “seu mundo”, seu “infinito particular”. Ao entrar em contato com a obra pela primeira vez, estava num campo de “não conhecer”, a partir de um maior contato pude fazer interpretações e refletir sobre a forma como me afetou. Por fim, a música traz a parte mais relevante, que fecha a ideia de uma forma plena, enfocando:
“[...] Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular”

Onde entende-se o infinito como algo que segue para sempre, norteando o pensamento para a possibilidade de que cada um tem em si um infinito a ser conhecido pelo outro, uma individualidade só nossa, repleta de características peculiares, explicitando a forma como nos entretemos infindavelmente num encontro de sujeitos do inconsciente.
A relação do método psicanalítico com uma obra de arte é muito peculiar, é necessário se colocar na posição de “não saber”, como revela Telles (1998), para conhecer um fenômeno, pois se entramos em contato com o fenômeno considerando nossos a prioris tendemos a explicá-lo e não a conhecê-lo, não deixando a realidade se mostrar de forma autônoma.
Considerando-se a música em questão, para entender é preciso mais do que o sentido da audição, é preciso se escutar de fato, não apenas a transmissão de sons, mas a transmissão de sentidos. Ademais, existe para o método psicanalítico a ideia de que a causalidade psíquica não opera leis universais, logo, o psiquismo responde a uma lógica havendo uma ordenação. Entretanto, com relação à questão do diagnóstico em psicanálise, associando-se o “tomar algo como pronto” a partir de um contato com uma obra, este se apresenta enquanto um embaraço técnico. Segundo Joel Dor, a relação entre um diagnóstico e uma indicação de um tratamento “não remete a uma relação de implicação lógica como é o caso na clínica médica” (1994, p. 15). Ainda pensando este tema, o diagnóstico se apresenta enquanto embaraço técnico para a psicanálise, pois se faz interessante ao psicanalista, posto que este pode vir a servir como norteador na produção da intervenção, não para ser divulgado ou para exercer controle sobre alguém. Porém, tal diagnóstico é impossível de ser feito, pois não se tem como saber anterior à intervenção qual é o funcionamento, para saber isso é preciso submeter o fenômeno a um atendimento psicanalítico, onde posteriormente faz-se possível o pensamento no sujeito inconsciente. É um paradoxo.
Neste tema, para Dor (1994) todo diagnóstico é um ato médico, sendo procedimento que recorre a técnicas verbais, entrevistas, anamnese, recolhendo-se informações, discriminando-se uma patologia de outra. Em psicanálise o diagnóstico será sempre um esboço, podendo sempre ser refeito. De modo que, "[...] o psicanalista não acrescenta um novo dizer. Ele permite as forças emocionais encobertas, em jogo conflitivo, encontrar uma saída ficando a cargo do consultor dirigi-las por si mesmo" (DOLTO, 1988, p. 10) Ao entrar em contato com uma obra somos tocados por ela, se estamos abertos a esta experiência, considerando que isto demanda desejo. Aludindo tal fato à metodologia psicanalítica, é possível se pensar acerca da realidade psíquica, onde em psicanálise existe apenas uma realidade, não considerando-se o que é real para aquele que nos traz a informação e o que realmente aconteceu, o que partiria de vestígios positivistas. Em psicanálise a realidade é sempre psíquica, abrangendo como o sujeito percebe, sendo toda realidade uma tentativa de produção de sentido. A partir do método pode-se enfocar que:


"A Psicanálise terapêutica é um método de pesquisa da verdade
individual para além dos acontecimentos cuja realidade não tem outro sentido
para um sujeito salvo a maneira pela qual lhe foi associado e por ela se sentiu
modificado" (DOLTO, 1988, p. 10)

Deve-se enaltecer que no campo do psíquico o funcionamento não corresponde ao biológico, mas ainda assim, responde a uma lógica, existindo uma ordenação, chamada causalidade psíquica. Faz-se importante pensar que "O psicanalista, suscitando a verdade do sujeito, suscita ao mesmo tempo o sujeito e a sua liberdade" (DOLTO, 1988, p. 12)
Para entrar em contato com o sujeito do inconsciente, a psicanálise faz uso de balizamentos, não sendo regras, mas norteando a atuação. É possível que mantendo-se no método, este seja de muita valia, e o grande método da psicanálise é a escuta. Utilizar-se da escuta não é tão fácil, é necessário que se ofereça receptividade e se comprometa de forma ativa, não estando apenas presente, mas prestando atenção. Sabe-se que o ouvir é o sentido mais difícil de conter, pois o som “invade”, isso é de fácil associação com a obra escolhida, onde apenas ouvir (captando sons através do órgão do sentido) não implica na escuta em questão. Esta depende de atenção, interesse, de uma receptividade oferecida para além do que se ouve, aberta ao sujeito do inconsciente, sabendo que também sou sujeito do inconsciente. Foi este sujeito do inconsciente que obrigou a psicanálise a inventar um método capaz de investigar o que os métodos positivistas não davam conta. O inconsciente é produção de sentido ou não sentido, sendo uma apresentação tardia na obra freudiana, em que aponta o inconsciente não como algo interno, oculto no homem (que decifrado apresentaria a verdade), o inconsciente não é um reservatório. Destarte, posiciona-se quanto ao papel do psicanalista que este "é o de uma presença humana que escuta" (DOLTO, 1988, p.13). Ainda sobre a tarefa deste profissional,


"pela sua presença, vai ajudar um indivíduo a articular a sua
demanda, a constituir-se na sua fala em relação à sua história, para extrair
finalmente, através de certa sequência, uma mensagem onde poderá ser vinculado a
um sentido". (MANNONI, 1988, p. 31)

O que norteia a atuação a partir da metodologia psicanalítica são os balizamentos clínicos, metapsicológicos (constructos) e metodológicos. Sobre os clínicos não pensando-se a nosografia, sobre a metapsicologia pensando entender o funcionamento psíquico a partir das psicanálises, e sobre os metodológicos buscando se manter no método, numa conduta que crie condições para o encontro psicológico, no levantamento do sujeito do inconsciente. Tornando nítido que é a partir da escuta que se entra em contato com o sujeito do inconsciente, se dando de inconsciente para inconsciente, não tendo a pretensão de controlar tudo, mas se colocando em condições de se encontrar com o sujeito do inconsciente não apenas ouvindo.
Faz sentido?

Referências Bibliográficas:

CAMILO, A.; FRAYSE PEREIRA, J. A.; TELLES, V. S. Psicogiagnóstico: Instrumento de Revelação? In: Anais do I CONPSIC. São Paulo, Conselho Regional de Psicologia, 1998.

DOR, J. Estruturas e clínica psicanalítica. Rio de Janeiro : Taurus, 1994.

MANNONI. M. A primeira entrevista em Psicanálise. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

domingo, 28 de agosto de 2011

* EU SOU UM DOMINGO

Deprimente e vazio como deve ser.
Domingo é dia de descansar, de dormir até tarde e fazer o que bem entender. Ou não fazer nada. Porque domingo pode. Mas independente de como o domingo seja preenchido, ele sempre termina numa depressão pré-segunda. E o pior: ao som da chamada do "Fantástico". Que eu não assisto, mas inevitavelmente ouço, posto que não moro sozinha. Ainda.
Tal sentimento de depressão associado ao final do domingo pode ser um condicionamento, de modo que, depois do final do domingo vem uma bela de uma segunda-feira, acompanhada de: acordar cedo, trabalhar o dia todo, passar a noite na faculdade e chegar em casa muito cansada.
Enfim, os domingos já foram diferentes, domingo era dia de namorar. Era dia de "despedida". Dia de aproveitar a companhia de alguém que eu sabia que me queria bem. Tinha mais sentido. Hoje é um vazio.
Meu domingo teve direito a uma espera infinita pela chegada de alguém... que não chegou. Eu chorei. Chorei porque queria esse vazio cheio. Queria a companhia, o gosto, o cheiro, o afeto, o afago e o meu eu inteiro.
Tentei dormir e Morfeu também não me quis. Optei pelo consolo da televisão e assisti -talvez pela 12ª vez- "A Casa do Lago". Foi quando, como diria um amigo meu, algo "brilhou". Pensei na história e me encontrei. Me vi na cena em que Kate espera por Alex no restaurante, e tudo acontece ao redor, menos ele chegar.


Claro, foi menos trágico do que no filme, depois que acabou a esperança eu não precisei de anos para saber o que havia acontecido, e sim, de algumas horas até receber um sms. O que, de forma alguma, amenizou o que eu sentia.
"A única pessoa que não posso estar junto, é aquela que eu mais queria entregar meu coração."
Dois anos, dois dias, duas horas... Não importa. Importa que um dia isso acabe. Que um dia você não precise perder a carteira, mas me encontre!
"E se você gosta de mim, espere por mim. Espere comigo. Apenas espere. Espere. Espere dois anos, Alex. Venha para a casa do lago. Eu estou aqui."



"Eu vim pelo que sei. E pelo que sei, você gosta de mim. É por isso que eu vim..." NADA PRA MIM (Ana Carolina)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

* DIA CINZA

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu... Chico Buarque entenderia meu dia cinza.
Foi pensando acerca do que tenho vivido nos últimos tempos, e por conseguinte, do que caracteriza meus dias enquanto dias cinzas, que senti uma imensa vontade de ressuscitar o blogger. Cá estou. Dias cinzas têm uma conotação que me remete à toda a tristeza de algo em que falta cor, em que falta sentido. Eu gosto do colorido. Meu dia pode ser vivido enquanto um "dia cinza" mesmo na mais ensolarada tarde de verão, porém, é quando o dia está concretamente cinza, que sinto um amargar muito mais intenso. Como se viesse de fora para dentro. Seria muito agradável mudar essa minha concepção de dias cinzas, mas preciso de determinada colaboração. Pela qual estou à espera.
Ademais, aludindo ao que tenho vivido, o que tem tirado as cores dos meus dias, posso me utilizar do que Renato Mezan diria sobre o que vivemos atualmente, de como é difícil renunciar à satisfação imediata das nossas vontades e que, de tal forma, abrimos mão da autonomia e buscamos satisfações artificiais. "Existe hoje uma perigosa tendência a evitar a responsabilidade individual, o que coloca em risco um dos valores que herdamos do Iluminismo: a autonomia." (MEZAN, 2005)
A possibilidade da satisfação imediata sendo mais acessível, implica na forma como nos vemos e em como lidamos com o sofrimento. Mas ainda não cheguei onde gostaria. Freud relatava a neurose como resultado de uma repressão excessiva dos impulsos, a partir de um severo superego, hoje em dia Renato Mezan defende a neurose enquanto resultado do oposto, enquanto resultado de pouca distância entre o impulso e o ato.
Sendo assim, eu pergunto: onde estaria a nossa consciência do que ouvi minha mãe repetir durante 24 anos, de que "nossa liberdade termina onde começa a do outro"? Não vejo problemas em 'dissolver' o superego em álcool e dar vida aos nossos impulsos. Desde que isso não prejudique ninguém. Se for o caso eu voto na renúncia, voto sim na frustração. Está aí onde eu queria chegar.
Meus dias perderam a cor quando percebi que nem eu, nem minha história, somos merecedoras dessa renúncia, não efetuada por outrem. Aquilo que cultivei enquanto meus valores para manter-me em bem-estar com a civilização foi machucado pela falta de consideração alheia.

"O indivíduo contemporâneo é complacente em demasia com seus desejos; quer tudo e agora, não se conforma com a necessidade de renunciar (em parte, ao menos) a sua satisfação, em nome do respeito às necessidades e desejos do outro." (MEZAN, 2005)
Não me eximo da culpa de qualquer renúncia que também não tenha feito, fosse pelo calor do momento ou outra coisa. Mas em momento algum me ausentei da reflexão sobre minhas atitudes, e as consequências das mesmas, o que contribuiu para a construção das minhas defesas contra tais impulsos, o que alimentou meu superego. Porém, o que se constrói, geralmente, ao se recusar a frustração é a falta de compreensão sobre o que nos motiva, logo, é a falta de aprendizagem na resolução de problemas.
E alguém que não se resolve me entristece, deixa meu dia cinza. Alguém que fala uma coisa e faz outra também, que tem um problema e foge do mesmo ao invés de encará-lo e resolvê-lo, que me deixa esperando... Alguém que não liga, que não volta pra mim, que não mais me trata com consideração, que me exclui de uma participação ativa numa situação que também é minha. Você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de desinventar... Só você, Chico, só você me entende.

"[...] afirmo apenas que qualquer trabalho terapêutico envolve a exigência – ética – de que a pessoa se responsabilize pelo que faz consigo própria e com os que a circundam, que ela perceba como, à sua revelia, colabora para criar em volta de si o inferno de que se queixa." (MEZAN, 2005)
Por fim, penso que seja possível se colocar mais cores nos dias... O sol me dá a ideia de consciência. Meus dias cinzas, dotados de tristeza, solidão e descontentamento com a raça humana, sobre estes, eu reflito. Almejando assim, a gestão do meu próprio sofrimento.

"Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, a palavra no muro ficou coberta de tinta. Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficou no muro tristeza e tinta fresca. Nós que passamos, apressados, pelas ruas da cidade, merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza..." GENTILEZA (Marisa Monte)

Referência: MEZAN, R. Quem está no comando? in: Veja On-Line. 2005
http://veja.abril.com.br/050105/p_064.html