domingo, 28 de agosto de 2011

* EU SOU UM DOMINGO

Deprimente e vazio como deve ser.
Domingo é dia de descansar, de dormir até tarde e fazer o que bem entender. Ou não fazer nada. Porque domingo pode. Mas independente de como o domingo seja preenchido, ele sempre termina numa depressão pré-segunda. E o pior: ao som da chamada do "Fantástico". Que eu não assisto, mas inevitavelmente ouço, posto que não moro sozinha. Ainda.
Tal sentimento de depressão associado ao final do domingo pode ser um condicionamento, de modo que, depois do final do domingo vem uma bela de uma segunda-feira, acompanhada de: acordar cedo, trabalhar o dia todo, passar a noite na faculdade e chegar em casa muito cansada.
Enfim, os domingos já foram diferentes, domingo era dia de namorar. Era dia de "despedida". Dia de aproveitar a companhia de alguém que eu sabia que me queria bem. Tinha mais sentido. Hoje é um vazio.
Meu domingo teve direito a uma espera infinita pela chegada de alguém... que não chegou. Eu chorei. Chorei porque queria esse vazio cheio. Queria a companhia, o gosto, o cheiro, o afeto, o afago e o meu eu inteiro.
Tentei dormir e Morfeu também não me quis. Optei pelo consolo da televisão e assisti -talvez pela 12ª vez- "A Casa do Lago". Foi quando, como diria um amigo meu, algo "brilhou". Pensei na história e me encontrei. Me vi na cena em que Kate espera por Alex no restaurante, e tudo acontece ao redor, menos ele chegar.


Claro, foi menos trágico do que no filme, depois que acabou a esperança eu não precisei de anos para saber o que havia acontecido, e sim, de algumas horas até receber um sms. O que, de forma alguma, amenizou o que eu sentia.
"A única pessoa que não posso estar junto, é aquela que eu mais queria entregar meu coração."
Dois anos, dois dias, duas horas... Não importa. Importa que um dia isso acabe. Que um dia você não precise perder a carteira, mas me encontre!
"E se você gosta de mim, espere por mim. Espere comigo. Apenas espere. Espere. Espere dois anos, Alex. Venha para a casa do lago. Eu estou aqui."



"Eu vim pelo que sei. E pelo que sei, você gosta de mim. É por isso que eu vim..." NADA PRA MIM (Ana Carolina)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

* DIA CINZA

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu... Chico Buarque entenderia meu dia cinza.
Foi pensando acerca do que tenho vivido nos últimos tempos, e por conseguinte, do que caracteriza meus dias enquanto dias cinzas, que senti uma imensa vontade de ressuscitar o blogger. Cá estou. Dias cinzas têm uma conotação que me remete à toda a tristeza de algo em que falta cor, em que falta sentido. Eu gosto do colorido. Meu dia pode ser vivido enquanto um "dia cinza" mesmo na mais ensolarada tarde de verão, porém, é quando o dia está concretamente cinza, que sinto um amargar muito mais intenso. Como se viesse de fora para dentro. Seria muito agradável mudar essa minha concepção de dias cinzas, mas preciso de determinada colaboração. Pela qual estou à espera.
Ademais, aludindo ao que tenho vivido, o que tem tirado as cores dos meus dias, posso me utilizar do que Renato Mezan diria sobre o que vivemos atualmente, de como é difícil renunciar à satisfação imediata das nossas vontades e que, de tal forma, abrimos mão da autonomia e buscamos satisfações artificiais. "Existe hoje uma perigosa tendência a evitar a responsabilidade individual, o que coloca em risco um dos valores que herdamos do Iluminismo: a autonomia." (MEZAN, 2005)
A possibilidade da satisfação imediata sendo mais acessível, implica na forma como nos vemos e em como lidamos com o sofrimento. Mas ainda não cheguei onde gostaria. Freud relatava a neurose como resultado de uma repressão excessiva dos impulsos, a partir de um severo superego, hoje em dia Renato Mezan defende a neurose enquanto resultado do oposto, enquanto resultado de pouca distância entre o impulso e o ato.
Sendo assim, eu pergunto: onde estaria a nossa consciência do que ouvi minha mãe repetir durante 24 anos, de que "nossa liberdade termina onde começa a do outro"? Não vejo problemas em 'dissolver' o superego em álcool e dar vida aos nossos impulsos. Desde que isso não prejudique ninguém. Se for o caso eu voto na renúncia, voto sim na frustração. Está aí onde eu queria chegar.
Meus dias perderam a cor quando percebi que nem eu, nem minha história, somos merecedoras dessa renúncia, não efetuada por outrem. Aquilo que cultivei enquanto meus valores para manter-me em bem-estar com a civilização foi machucado pela falta de consideração alheia.

"O indivíduo contemporâneo é complacente em demasia com seus desejos; quer tudo e agora, não se conforma com a necessidade de renunciar (em parte, ao menos) a sua satisfação, em nome do respeito às necessidades e desejos do outro." (MEZAN, 2005)
Não me eximo da culpa de qualquer renúncia que também não tenha feito, fosse pelo calor do momento ou outra coisa. Mas em momento algum me ausentei da reflexão sobre minhas atitudes, e as consequências das mesmas, o que contribuiu para a construção das minhas defesas contra tais impulsos, o que alimentou meu superego. Porém, o que se constrói, geralmente, ao se recusar a frustração é a falta de compreensão sobre o que nos motiva, logo, é a falta de aprendizagem na resolução de problemas.
E alguém que não se resolve me entristece, deixa meu dia cinza. Alguém que fala uma coisa e faz outra também, que tem um problema e foge do mesmo ao invés de encará-lo e resolvê-lo, que me deixa esperando... Alguém que não liga, que não volta pra mim, que não mais me trata com consideração, que me exclui de uma participação ativa numa situação que também é minha. Você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de desinventar... Só você, Chico, só você me entende.

"[...] afirmo apenas que qualquer trabalho terapêutico envolve a exigência – ética – de que a pessoa se responsabilize pelo que faz consigo própria e com os que a circundam, que ela perceba como, à sua revelia, colabora para criar em volta de si o inferno de que se queixa." (MEZAN, 2005)
Por fim, penso que seja possível se colocar mais cores nos dias... O sol me dá a ideia de consciência. Meus dias cinzas, dotados de tristeza, solidão e descontentamento com a raça humana, sobre estes, eu reflito. Almejando assim, a gestão do meu próprio sofrimento.

"Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, a palavra no muro ficou coberta de tinta. Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficou no muro tristeza e tinta fresca. Nós que passamos, apressados, pelas ruas da cidade, merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza..." GENTILEZA (Marisa Monte)

Referência: MEZAN, R. Quem está no comando? in: Veja On-Line. 2005
http://veja.abril.com.br/050105/p_064.html