domingo, 11 de maio de 2008

* SUAVÍSSIMA

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .No céu de outono, anda um langor final de pluma

Que se desfaz por entre os dedos, vagamente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma . . .


Fica-se longe, quase morta, como ausente . . .Sem ter certeza de ninguém . . . de coisa alguma . . .Tem-se a impressão de estar bem doente, muito doente,

De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma . . .E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . . A alma das flores, suave e tácita, perfuma a solitude nebulosa e irreal do ambiente . . .

Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .Tão para lá! . . . No fim da tarde . . . além da bruma . . .

E silenciosos, como alguém que se acostuma
A caminhar sobre penumbras, mansamente,
Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma . . .

Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma . . .E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .



Cecília Meireles

segunda-feira, 5 de maio de 2008

* Apenas eu, agora

"Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar." C. L.

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo." C. L.

E me irrito tão facilmente quanto te odeio. Irônico?
Ouvindo músicas deprimentes, assistindo à cenas românticas de um filme que passa na televisão sem som, lendo Clarice Lispector e conversando virtualmente com pessoas que não sabem o que se passa do lado de cá. Enquanto isso... Sinto sua falta.
Na realidade, sinto falta daquilo que foi capaz de me proporcionar um dia, fecho os olhos e vejo tudo se repetir (ainda ao som de minhas músicas deprimentes). A liberdade que essa lacuna me proporciona me assusta, queria de volta a segurança de estar presa em sua teia.
O novo é sempre assustador, mas que opção temos quando estamos diante de algo novo que nos foi proporcionado independente de nosso querer? O novo acostuma, somos todos adaptáveis.
E eu, brisa ou ventania, ainda sinto falta de tudo... Tudo o que acontecia em qualquer lugar ou outro lugar, mas principalmente, dentro de nós.
Sem complicar, eu sou fácil de se entender quando analisada num determinado instante estático -essa ironia me persegue- Mas que instante é estático? Que instante não influencia em outros instantes e deixa de ser estático tomando uma proporção maior que a inicial?
Eu sou aquilo que se vê. Vago demais, vou muito além daquilo que se vê. Muito além de interpretações, conceitos e preconceitos criados no calor do momento. Como agora, com toda essa nostalgia que em outra época seria capaz de me causar uma crise existencial sem tamanho.
Hoje tais efeitos não exercem mais tanta influência sobre mim, talvez não da mesma forma. Pessoas são mutáveis e adaptáveis. Felizmente. Mas ainda sinto a tal falta.



"Há tanto tempo que eu deixei você. Fui chorando de saudade, mesmo longe não me conformei. Pode crer, eu viajei contra a vontade... O teu amor chamou e eu regressei. Todo amor é infinito. Noite e dia no meu coração, trouxe a luz do nosso instante mais bonito. Na escuridão o teu olhar me iluminava e minha estrela-guia era o teu riso. Coisas do passado são alegres quando lembram novamente as pessoas que se amam. Em cada solidão vencida eu desejava o reencontro com teu corpo abrigo. Ah! Minha adorada, viajei tantos espaços pra você caber assim, no meu abraço... Te amo!" A VIAGEM (Roupa Nova)